Corpos das vítimas do tarado nunca foram encontrados o que valoriza o trabalho de investigação da PJ em reunir indícios irrefutáveis que levaram à pesada condenação
Um dos maiores facínoras deste século, Francisco Leitão, conhecido por rei Ghob, foi ontem condenado pelo coletivo de juízes do Tribunal de Torres Vedras a 25 anos de cadeia por dois crimes de homicídio simples e um de homicídio qualificado. A pretexto de aliciar jovens para sessões exotéricas e espiritualistas, o «rei» aliciava a sua «corte» para sessões de sexo, afinal, o seu objetivo principal Foram os ciúmes que desencadearam uma orgia de sangue.Mas neste caso há ainda «pontas» por desatar…por exemplo, se actuou sozinho ou teve outras cumplicidades ligadas a pedófilos endinheirados activos na zona de Peniche.
Realce-se o trabalho realizado pela PJ que reuniu os indícios considerados credíveis e intocáveis que provaram a autoria dos homicídios de três jovens – Tânia Ramos, Ivo Delgado e Joana Correia – entre 2008 e 2010, embora os corpos nunca tenham sido encontrados. A acusação considerou que o arguido terá cometido os homicídios por motivos passionais, indicando que Francisco Leitão manteria uma relação amorosa com Ivo Delgado.
Nem o facto da PJ não ter encontrado nenhum dos corpos dos corpos pesou na decisão do tribunal de Torres Vedras que valorizou o testemunho de Mara Rodrigues, a única testemunha que afirmou ter visto Francisco Leitão a matar uma das vítimas, no caso Ivo Delgado e os vários indícios recolhidos pela investigação da PJ – Francisco Leitão ficou com os telemóveis das vítimas e tentou sempre convencer as famílias de que os jovens tinham fugido e estavam no estrangeiro.
DROGAVA AS VÍTIMAS.PENICHE ERA UM DOS CENTROS DE «ATAQUE» DO TARADO
O que faltou aprofundar neste processo – talvez as pistas deixadas levem os investigadores a desenvolver esse espaço de investigação – serão as relações de Francisco Leitão a grupos poderosos de pedofilia ainda muito activos na zona de Peniche e arredores. Vários jovens interrogados pela Polícia Judiciária (PJ) em 2001 e 2002 revelaram que o arguido era um dos homens endinheirados, oriundos de diversas zonas do país, que circularam pela cidade de Peniche a aliciar jovens, fazendo-os entrar nas suas viaturas e levando-os para outros locais com o intuito de manterem relações sexuais a troco de dinheiro.
Nos interrogatórios que fazem parte do processo dos homicídios, um dos jovens explicou que os alegados pedófilos abordavam os menores junto à rodoviária e a um supermercado da cidade, na sequência de contactos telefónicos previamente efectuados a combinar o encontro, pagando às vítimas entre 25 e 50 euros.
A investigação da PJ foi desencadeada por uma queixa por suspeita de abusos sexuais contra Francisco Leitão apresentada em 2002 por um jovem de 16 anos.
P.S. relatou que estava num bar em Peniche com amigos, a beber copos pagos pelo arguido, que o terá drogado e levado para sua casa, onde acordou no dia seguinte, deitado em cuecas e coberto por um lençol numa cama, sem se recordar de nada.
Um outro jovem contou à PJ que acedeu a um convite de Leitão para irem beber copos. Após recusar ter sexo com ele, pararam numa gasolineira, onde o arguido lhe comprou um café. Após bebê-lo, começou a sentir-me mal e a fechar os olhos, tendo acordado no dia seguinte em casa daquele.
O inquérito, à semelhança de um outro de 2006, foi arquivado por falta de provas e terá sido reaberto no âmbito de um processo de 2009, ao qual o Ministério Público veio a juntar várias denúncias e que está em segredo de justiça no Tribunal da Lourinhã, em que Leitão foi constituído arguido por suspeitas de abusos sexuais a pelo menos 20 menores.
Aquando da investigação dos quatro homicídios, crimes pelos quais está a ser julgado no Tribunal de Torres Vedras, a PJ veio a juntar mais queixas de abusos sexuais, uma das quais contra um dos sobrinhos.
Vários jovens, que em 2010 frequentavam a casa-castelo onde Francisco Leitão levava a cabo os rituais, e que eram apelidados de «gnomos do rei Ghob», contaram também à PJ que o arguido os amedrontava com espíritos maus, dizendo-lhes que os perseguiam e que tinham de ser «injectados com energia positiva», sob a forma de relações sexuais a ter com o arguido, para se livrarem do mal.
L.P disse que foi vítima de «mais de 300 relações sexuais», ocorridas várias vezes ao dia, uma vez que anotavam numa folha para contabilizar os «pontos de energia» obtidos.
Nas buscas domiciliárias, foram encontrados fármacos que alegadamente Leitão usava para drogar os jovens, fazendo-os perder a consciência para os sujeitar a ter sexo.
A PJ encontrou quatro vídeos de práticas sexuais do arguido com adolescentes, um dos quais foi Ivo Delgado (que terá morto), que, segundo várias testemunhas, era vítima de maus-tratos pelo arguido quando alegadamente se recusava a ter relações sexuais, à semelhança de outros jovens que terão sido agredidos violentamente pelo mesmo motivo.